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Por um novo espírito alter-mundialista

Fernanda Bernardo é professora de Filosofia na Universidade de Coimbra. Filosoficamente posicionada na Desconstrução é tradutora de vários títulos de J. Derrida, de J.-L. Nancy, de M. Blanchot, de H. Cixous e de E. Lévinas, e é autora de diversos títulos neste idioma do filosófico, de que aqui se lembram Lévinas Refém (2012); com G. Bensussan, Les équivoques de l’éthique/Os equívocos da ética (2013); «L’athéisme messianique de Derrida» (2014); Endereçamentos.

Saudando Jean-Luc Nancy em Coimbra (2014); «De la Destruktion à la Déconstruction: de la mort et de la peine de mort» (2016); «Ecos do silêncio: o pensamento do poema de Derrida e o meridiano po-ético de Celan» (2016); «Derrida e o Cinema» (2017); «Derrida – toujours déjà “politique”. Écriture – Parjure – Pardon» (2018) ; «Dar à língua & Femininizar. Cixous – Derrida: da différance sexual às diferenças sexuais»; com Jean-Luc Nancy, Michel Lisse e Cristina de Peretti, Derrida lecteur de Heidegger (après les Cahiers noirs) (2018) e, com outros, Escrita’s da Resistência (2018).

Resumo

Um verso – neste caso de Paul Celan: «Die Welt ist fort, ich muss dich tragen» – pode, por si só, não só insinuar e apelar a uma nova po-ética, mas também, e ipso facto, à urgência de um outro pensamento do mundo e de um justo viver-juntos no mundo, e, por conseguinte, à reelaboração filosófica de um outro pensamento do político (polis) – incluindo do cosmopolitismo – e da resistência ou da dissidência – sobretudo num contexto em que um número crescente de inquietações cruciais para o futuro da humanidade são conscientizadas como tendo manifestamente uma dimensão universal. Planetária, dir-se-á.

É o que muito sucintamente nos propomos tentar mostrar aqui, salientando, por um lado, os desafios, as ambiguidades, as insuficiências e os limites da, no entanto, muito respeitável tradição do cosmopolitismo – insuficiências e limites que, no essencial, ecoam na dita «globalização» ou «mundialização» em curso – , e salientando, por outro lado, como, por sob a injunção indesconstrutível de uma justiça (que não é o Direito) e de uma hospitalidade infinitas, o pensamento de Jacques Derrida, a Desconstrução, nos apela a ousar repensar e efectivar o cosmopolitismo em termos de uma «Nova Internacional democrática», que o mesmo é dizer em termos de uma certa «alter-mundialização por vir»: «Creio muito na alter-mundialização, dizia o filósofo em 2004, em «Si je peux faire plus qu’une phrase…» (Inrock, 2004, nº 435, p. 25).

Não nas formas que ela toma actualmente, frequentemente confusas e heterogéneas. Mas, no futuro, assim o creio, as decisões tomar-se-ão a partir daí – os Estados-Nações hegemónicos e as organizações que deles dependem (nomeadamente as «cimeiras» económicas e monetárias) deverão ter em conta esta força. Os partidos políticos, tais como actualmente existem […], são incapazes de integrar um discurso alter-mundialista. […] Nada tenho contra os partidos, são precisos partidos. Mas a ideia de que os partidos, quaisquer que sejam, vão determinar a política acabou.

A nova força a que aludimos é sem partido, atravessa todo o campo social, também não pertence a uma classe social, todos os tipos de trabalhadores nela se encontram.»