O orçamento branco das artes na era pós-industrial
Conferencista
Nuno Nabais é o fundador e director da Fábrica do Braço de Prata – livraria de ciências humanas, editora, salas de concertos, galeria de arte, escola de música, restaurante.
Desde 1995 é professor auxiliar no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa.
Entre 1998 e 2000 ensinou Teoria do Teatro na Escola Superior de Teatro e Cinema.
Entre 2000 e 2010 ensinou Teoria do Trabalho do Actor no Departamento de Artes da Universidade de Évora.
Desde 2013, colabora no Programa Doutoral FCT em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade na Faculdade de Ciências de Lisboa.
É autor de Metafísica do Trágico. Ensaios sobre Nietzsche, Relógio d’Água, 1997, e A Evidência da Possibilidade. A questão modal na fenomenologia de Husserl, Relógio d’Água, 1998.
Conferência com por Nuno Nabais
- Quarta-feira, 6 de Junho
- 18h00
- Auditório do Museu Colecção Berardo
- Entrada Livre
Abstract
Apesar das contestações recentes ao orçamento do Ministério da Cultura para as artes performativas, temos que reconhecer que nunca o universo das actividades culturais esteve tão sustentado pelos dinheiros públicos como hoje.
No plano europeu, o programa “Europa Criativa” foi dotado de um orçamento global para o período 2014-2020 de 1,46 mil milhões de euros, ou seja, uma progressão de 9% em relação ao exercício anterior. No plano nacional, os Ministros da Cultura e dos Negócios Estrangeiros anunciaram em Fevereiro de 2017 um programa milionário para apoiar nesse ano a internacionalização das actividades culturais criadas em Portugal. 10% do orçamento daqueles ministérios foi utilizado para apoiar 1300 acções de artistas nacionais em 75 países.
Este enorme investimento nas artes não exprime qualquer conversão dos governos às virtudes da criação e à relevância das experiências de gosto. Revela, pelo contrário, que o potencial crítico das artes se perdeu inteiramente para o seu potencial económico. A euforia em torno da criação de museus, fundações, cursos de curadoria, deixa ver uma nova forma de economia. Estamos agora perante a “economia do enriquecimento”, como lhe chamaram os sociólogos Luc Boltanski e Arnaud Esquerre num livro publicado em 2017.
Segundo estes sociólogos, passámos de um capitalismo industrial para uma economia de criação de valor especulativo. Esse valor, criado ou aumentado, depende de novos vínculos que ligam património, museus, luxo, arte e turismo. Na era da pós-industrialização, a economia do enriquecimento, para além de ser um dispositivo que dissolve a autonomia criativa ou crítica da arte, faz das actividades artísticas o seu operador e o seu princípio de legitimação.
Como retomar então a carga revolucionária da criação artística sem recusar os enredos económicos das actividades culturais? Para tentar uma resposta, propomos uma pequena análise do caso da Fábrica do Braço de Prata, 10 anos depois da sua criação.